Do conto A Casa de Matriona, de Alexander Soljenítsin, publicado em 1963 (tradução para português de Jorge Feio, 1972, Arcadia, pp. 49-50). O cenário é a uma povoação campestre da Rússia, longe de tudo; a voz é a do professor Ignatitch que em 1953 lá chegou mais por acaso do que por escolha deliberada.
"Parecia que vinha à escola para descansar, sentando-se por detrás da carteira a sorrir indolentemente. Mas, o pior era que, para que se mantivesse o alto rendimento que tinha tornado célebres as escolas do nosso distrito, da nossa província e das províncias vizinhas, ele ia passando de ano para ano e compreendia muito bem que, por muito que os professores o ameaçassem, no fim do ano passá-lo-iam na mesma, podendo, por isso, deixar de estudar. Não precisava de se ralar. Não sabia fracções e não distinguia os vários tipos de triângulos. Nos primeiros trimestres ficara preso na rede dos meus «dois», e a mesma sorte o esperava agora.
Mas a este velho meio cego, que de Antochka podia ser mais avô do que o pai, e que tinha vindo pedir-me humildemente como podia eu dizer agora que, ano após ano, a escola o tinha vindo a enganar e que eu não podia continuar a enganá-lo, pois de outro modo arruinaria toda a classe e eu próprio transformar-me-ia num charlatão a ponto de poder cuspir sobre o meu trabalho e a minha missão?"
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