segunda-feira, 17 de julho de 2017

O fogo continua


Em artigo de opinião publicado no Público ("Sem protecção" ) sobre o incêndio de Pedrógão de há um mês previ que os incêndios iam continuar e as falhas no combate aos fogos também. Infelizmente o incêndio de Alijó está aí para o comprovar. Se o SIRESP, falhou em Pedrógão Grande, em Alijó voltou a falhar. O problema não é, pois, o sítio, mas o próprio SIRESP, uma parceria público-privada ruinosa que prossegue sem alterações, fogo após fogo, saindo sempre chamuscada.

A nomeação pelo Parlamento e pelo CRUP de uma comissão independente com um prazo até Outubro para apresentar um relatório sobre as causas do acidente e a eficácia, ou melhor, falta de eficácia, do combate ao fogo que dizimou 64 vítimas, foi um passo mal dado. Foi um erro crasso do PSD ao qual o PS deu seguimento, permitindo que a oposição se enrodilhe nas suas enormes contradições. Uma comissão técnica não pode ter nomeação partidária. Competia ao governo ter ordenado uma comissão de inquérito com um prazo muito mais curto. E não sei o que é o CRUP está ali a fazer acrescentando especialistas aos do Parlamento. As universidades não se deviam deixar politizar. Não está a ser seguida a melhor metodologia, mas veremos.

Dos registos já públicos sobre o desastre parece-me ter havido logo desde o início, mesmo antes de ter havido o provável downburst (que não está ainda provado) e as numerosas vítimas mortais,
 alguma hesitação, demora e desordem na resposta ao incêndio.  Foi dito que foi feito o melhor possível, o máximo o que era possível fazer, mas na minha opinião não foi. Interrogo-me se, com a informação meteorológica disponível na altura, com os meios aéreos de observação (incluindo hoje não só aviões e helicópteros,  mas também drones e satélites)  e com os meios de observação no terreno, não teria sido possível fazer previsões em tempo real sobre a propagação do incêndio, de modo a proceder a evacuações atempadas e cortes de vias de tráfego. Devia ter funcionado o princípio da precaução. Não quero ser injusto para alguma equipa científica que eventualmente tenha acompanhado os bombeiros, mas parece-me que algo  ficou por prever e por fazer. O tempo o esclarecerá. Também não quero ser injusto para com os bombeiros e outros operacionais, cujo esforço estimo muito. Mas eles mereciam melhores comunicações e melhores ordens executivas.

Entretanto, as autoridades judiciais têm um papel. O Director da Polícia Judiciária começou mal, muito mal, quando em menos de 12 horas indicou a dedo a árvore responsável pela ignição, quando terá sido hipoteticamente atingida por um raio. O problema é que não está confirmada pelos  serviços meteorológicos a queda desse raio, parecendo que nem sequer havia naquele sítio aquela hora nuvens de trovoada. Mas a Judiciária insiste teimosamente na tese do raio... O Director da Judiciária foi demasiado rápido - ainda o fogo ardia- para ser credível a sua tese, e os melhores dados actuais desmentem-na. De resto, não é preciso um raio, com temperaturas superiores a 40 graus e humidade muito baixo, para o fogo começar numa zona tão combustível. Basta um descuido de alguém, por exemplo, como tem acontecido tantas vezes. Ou, como defendeu sem provar um dirigente de bombeiros, um acto malvado. Essa hipótese não devia ser descartada, até porque não é científico descartar à partida nenhuma hipótese.

Sem comentários:

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...