quinta-feira, 27 de outubro de 2016

NA MORTE DE JOÃO LOBO ANTUNES

Declarações prestei ao Público hoje, ao telefone,. logo que informado da morte do médico João Lobo Antunes:

"Para o físico Carlos Fiolhais, João Lobo Antunes “era uma das mentes mais brilhantes da ciência nacional.”. “Pensava bem e expressava-se bem. Há pessoas que pensam bem mas não escrevem bem. Há outras que escrevem bem mas não pensam bem. Ele juntava as duas, de um modo único”, disse ao PÚBLICO. 

“É trivial dizer isto, mas estamos mais pobres. Eu sinto-me mais pobre, porque ele era uma inteligência viva, alumiava, sentíamos-mos mais inteligentes ao pé dele. Era uma pessoa muito acima da mediania nacional, muito culto e inteligente”, destacou o também professor da Universidade de Coimbra. "

Acrescento:

"Deixou escola, na medicina no Hospital de Santa Maria, no investigação na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e na Gradiva com os seus livros. Há médicos e investigadores que se podem orgulhar de ter sido seus discípulos. Eu orgulho-me de ser seu leitor. A sua escola é formada por todos nós, leitores dos seus livros. João Lobo Antunes vai continuar connosco através dos seus livros, onde ele se revela um homem das "duas culturas", a científica e a humanista, que de facto são apenas uma, a cultura humana. Os livros, como tão bem disse Carl Sagan, fazem magia, ao quebrar a barreira do tempo, quando permitem a nossa comunicação com autores que já não estão fisicamente entre nós.

Lobo Antunes conseguiu elevar a escrita de ensaio em português a um nível tão elevado, que é difícil de superar. Ele era um dos maiores escritores portugueses mesmo considerando qualquer género literário. E vai continuar a ser porque os escritores só morrem quando deixamos de os ler."

Fernando Correia de Oliveira conta aqui o essencial de uma conversa que tive com Lobo Antunes e com ele sobre o mistério do tempo, no Pavilhão do Conhecimento. O médico já aí falava em superar as barreiras do tempo. No ano passado foi  convidado de honra no dia de aniversário do Rómulo- Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra (ver cartaz em cima) e já aí falou, sem constrangimento, do fim do tempo pessoal.
  

1 comentário:

Unknown disse...

Felizmente continuará sempre a existir espaço vazio para podermos preencher as nossas vidas e continuarmos a defender que tal como Camões "...os que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando...". João Lobo Antunes remete-nos para uma literacia Ética...

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