segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

CIÊNCIA E FÉ


O semanário "Expresso" colocou-me algumas perguntas sobre ciência e fé para um trabalho que foi publicado no último número da revista "Única". Aqui estão elas juntamente com as respostas:

P- A circunstância de um cientista ter uma fé religiosa de qualquer tipo, isto é, ser crente, condiciona-o no seu trabalho? Limita-o? Tira-lhe objectividade, discernimento ou capacidade de análise?

R- Há, como sempre houve, muitos cientistas crentes e há também muitos cientistas não crentes. De entre os primeiros é justo destacar o italiano Galileu Galilei e o inglês Charles Darwin, cujas obras são motivo para comemorações à escala mundial em 2009, que protagonizaram episódios de conflito entre ciência e religião (Darwin chegou a estudar para pastor anglicano, foi uma pessoa religiosa durante largos anos e só no fim da sua vida se declarou agnóstico). Mas pode também referir-se o inglês Isaac Newton e o checo Gregor Mendel (este último era mesmo monge agostiniano). Nos cientistas ateus ou agnósticos, o caso do norte-americano e suíço Albert Einstein é algo especial pois ele, à maneira do holandês Bento Espinosa, substituía Deus pela “harmonia cósmica”. Podem também incluir-se nesse grupo os norte-americanos Richard Feynman e Carl Sagan, embora estes tenham sempre respeitado e até enaltecido o sentido do religioso (o segundo procurou até bastante a aproximação com líderes religiosos, nomeadamente em defesa do nosso planeta). Alguns cientistas deste segundo grupo têm vindo a ter intervenções bastante mediatizadas nos últimos tempos em favor do ateísmo: por exemplo, o biólogo inglês Richard Dawkins, que tem empreendido uma espécie de “cruzada” contra a religião, e o físico norte-americano, galardoado com o Nobel da Física tal como Einstein e Feynman, Steven Weinberg, talvez menos prosélito do que Dawkins mas também com posições ateístas bastante claras. Não conheço estatísticas sobre a crença dos cientistas, mas, sendo estes pessoas comuns antes de serem cientistas, é natural que neles se encontrem os mesmos fenómenos de crença ou de descrença que se encontram na sociedade em geral. Em particular, é natural que se encontrem nos cientistas as mesmas afiliações religiosas que se encontram na sociedade em que vivem (um outro Prémio Nobel da Física, o físico paquistanês Abdul Salam, era muçulmano). Como a sociedade moderna é mais laica e como a “confissão” pública de descrença é mais socialmente aceitável, é também natural que cada vez mais se ouçam vozes de cientistas que expressam dúvidas sobre Deus ou mesmo que afirmam as suas certezas individuais em desfavor de Deus.

Dito isto, fica claro que se pode ser cientista e ter ao mesmo tempo uma fé religiosa. Muitos exemplos da história da ciência e da actualidade mostram que é pacífica a coexistência de ciência e religião. De uma forma apenas metafórica, direi que ocupam partes do cérebro diferentes. Não penso, por isso, que a crença religiosa de um cientista o limite, que lhe retire objectividade na ciência que faz. Um cientista sabe que quando está num laboratório, não está numa igreja e que quando está numa igreja não está num laboratório. Claro que haverá sempre excepções que confirmarão esta regra...

P- Qual é a diferença fundamental entre uma teoria científica e uma crença religiosa?

R- Ciência e religião devem ser vistas como maneiras diferentes, muito diferentes até em vários aspectos, de encarar o mundo, que correspondem a necessidades humanas diferentes. Apesar das diferenças, julgo que elas fazem bem em respeitar-se mutuamente. A ciência é a descoberta do mundo, recorrendo à racionalidade e à experimentação. Está pronta a corrigir os erros se houver suficiente evidência para eles, conseguindo assim progredir ao longo do tempo. A religião é um outro tipo de visão do mundo, que não assenta na racionalidade nem na experimentação. Assenta em geral em dogmas que têm uma tradição histórica profunda e que não podem ou que muito dificilmente podem ser revistos. Quando um cientista é dogmático não está a ser científico. E quando um religioso está disposto a rever continuamente as verdades da sua religião, não está a ser religioso.

Nos casos de Galileu e Darwin houve "choque" entre descobertas científicas e dogmas estabelecidos relativos ao lugar da Terra e no Universo e à origem do homem. O caso de Galileu, o autor do método científico, está hoje reconhecidamente ultrapassado, tendo até a Igreja Católica, passados vários séculos, reconhecido o seu erro. Parece até que Galileu vai ter uma estátua nos jardins do Vaticano. No caso de Darwin, que curiosamente está sepultado na catedral de Westminster, em Londres, o ”choque” chegou até aos dias de hoje, com os criacionistas a combaterem a teoria da evolução por vários meios, principalmente nos Estados Unidos, mas já com preocupantes afloramentos na Europa. No blogue “De Rerum Natura” temos acompanhado esses desenvolvimento não de uma forma neutra, mas tomando partido pela ciência e contra a anti-ciência que o criacionismo representa. De facto, querer como alguns querem que nas aulas de ciência se ensine o criacionismo ao mesmo tempo que o evolucionismo é um absurdo completo pois não se pode ensinar como ciência o que é precisamente o oposto dela. O irracional poderá ocupar o seu lugar, mas não pode ocupar o lugar do racional. Uma tal atitude poderia até ser um atentado contra a democracia, pois alguns autores dessas ideias perseguem ideais teocráticos, que no fundo pretendem a subordinação do Estado a ideologias religiosas.

P- Quando se discutem (ou testam, como no LHC) os primeiros instantes do Universo há espaço para a ideia da intervenção divina na criação?

R- A ideia de que houve um “Big Bang”, isto é, o início do espaço-tempo, tem uma base lógico-empírica bastante sólida. Neste momento não há sequer uma teoria alternativa que seja minimamente consistente. Portanto, não é uma ideia de base religiosa. O facto de essa ideia moderna coincidir, apenas de uma maneira geral e vaga, com uma ideia bastante antiga da Igreja Católica, é sem dúvida curioso. A este respeito lembro que um dos autores da teoria do “Big Bang” foi o astrofísico belga Georges Lemaître, que era sacerdote católico. E acrescento que vários altos dirigentes religiosos se congratularam com o que chamaram a “base científica” da criação descrita na Bíblia. Mas é óbvio desde o tempo de Galileu que a Bíblia não é um livro de ciência... Os astrofísicos não trabalharam com base na Bíblia para agradar ao Papa. Olham com atenção para o céu com poderosos telescópios, instrumentos muito superiores aos que Galileu usou há quase 400 anos, e são hoje capazes de fazer experiências na Terra que recriam, por pequenos tempos e em pequenos espaços, as condições que terão existido por todo o lado no cosmos primitivo. As suas conclusões, por absoluta falta de informação, nada dizem sobre o que se terá passado antes do “Big Bang” (a pergunta sobre a causa do “Big Bang” é legítima, mas não pode ser respondida pela ciência). Os astrofísicos não podem nem aliás querem provar a existência ou a inexistência de Deus. O astrofísico inglês Stephen Hawking e outros falam, de facto, de Deus, mas trata-se de uma imagem, uma imagem que tem força e impacte... Einstein também falava de Deus sem acreditar em qualquer Deus pessoal. O físico norte-americano Leon Lederman fala de “partícula de Deus” a propósito do procurado bosão de Higgs. Essas imagens podem ser e são muitas vezes perigosas porque dão a entender que há uma mistura entre ciência e religião quando, de facto, não há. Elas mostram apenas que alguns cientistas são uns bons comunicadores...

P- A Igreja Católica tem uma longa história de repressão e condicionamento do pensamento científico que remonta, pelo menos, a Galileu? A posição actual é diferente?

R- Sim, a Igreja Católica já se penitenciou a propósito do caso Galileu. Há hoje um Observatório Astronómico no Vaticano, a cargo de jesuítas, onde se realiza investigação científica. O próprio Papa tem convocado cientistas e teólogos para alguns encontros sobre ciência e fé. Também não penso que haja tensão actualmente a propósito da evolução, embora possa haver a esse respeito palavras menos felizes de um ou outro membro do clero. Nisto a Igreja Católica distingue-se de algumas igrejas evangélicas, que têm ideias radicais baseadas na Bíblia. Contudo, não se pode dizer que não haja tensão entre a ciência e a Igreja a respeito de outros assuntos, nomeadamente sobre os limites éticos da moderna investigação biomédica. Muitos biólogos e médicos acham que são conservadoras as posições oficiais da Igreja sobre algumas questões de biologia e medicina, nomeadamente a utilização de células estaminais. Provavelmente assistiremos a uma evolução das posições da Igreja neste domínio à medida que a ciência evoluir e a tecnologia associada se revelar benfeitora do homem.

P- O cientista no seu trabalho segue um protocolo rigoroso, com verificação de leituras, comprovação de factos e cálculos, etc. Fica alguma lugar para a inspiração, para a criatividade, para o «tiro do escuro»?

R- Em primeiro lugar, embora sem ser de tipo religioso, o cientista também tem crenças no seu trabalho. Um cientista tem de acreditar na sua hipótese. A grande diferença relativamente à fé religiosa é que o cientista tem de estar preparado para deixar de acreditar na sua hipótese se a experiência não a confirmar. Sim, há um grande lugar para a inspiração e para a livre criatividade no trabalho científico. Por exemplo, só certos génios são capazes de certas hipóteses geniais. E nem eles sabem de onde lhe vêm essas intuições. Pode dizer-se até que há algo de irracional na racionalidade científica, embora as modernas neurociências tenham vindo a procurar esclarecer o modo como funciona o cérebro humano. Vai, com certeza, saber-se mais sobre ele e talvez se verifique que a criatividade em ciência não é lá muito diferente da criatividade artística - o cérebro encontra subitamente unidade em algo que parecia desunido. De repente, estabelece um sentido onde não parecia haver sentido nenhum. Faz-se luz onde estava escuro. O cérebro humano parece “feito” para procurar um sentido razoável das coisas. É racional. Mas convém acrescentar que o cérebro humano também parece “feito” para dar sentidos não razoáveis, também é irracional. Alberga tanto a racionalidade como a irracionalidade. Na linha de Darwin, há desenvolvimentos científicos recentes que atribuem à evolução humana a origem e desenvolvimento das religiões. Acreditar terá sido uma vantagem competitiva, tanto para um indivíduo como para o seu grupo. Isto é, a pertença a um grupo religioso terá sido um factor que ajudou à sobrevivência do indivíduo e do grupo. Esta ideia, expressa por exemplo pelo filósofo norte-americano Daniel Dennett ou pelo biólogo inglês Lewis Wolpert, ainda não é consensual e está a fazer o seu caminho. Não sabemos ainda o suficiente, mas é curioso que o aparecimento e a afirmação do fenómeno religioso sejam hoje objecto de pesquisa científica...

P- Há descobertas por acaso, como a da penicilina. A «serendipidade» é aliás frequente na história das grandes descobertas. Que papel pode ter o acaso na descoberta científica?

R- O acaso tem certamente um papel na descoberta científica. Acontecem coisas aos cientistas – por exemplo estar num certo sítio a uma certa hora – que podiam não acontecer. Claro que é preciso estar atento ao acaso, que só assim pode ser um acaso criativo. Por exemplo, as descobertas da radioactividade e dos raios X, no final do século XIX, poderão ter sido casuais. Contudo, distinguiria esse tipo de acaso da “fezada”, a intuição do que vai acontecer que se expressa sob a forma de uma hipótese científica. Uma hipótese não costuma ser por acaso, antes se baseia em teses anteriores devidamente testadas e comprovadas.

13 comentários:

perspectiva disse...

Seguem-se alguns comentários criacionistas às respostas de Carlos Fiolhais.

Votos de Feliz Natal, não esquecendo de que se trata da comemoração da encarnação de Deus, na pessoa de Jesus Cristo, tal como testemunhado por muitos há 2000 anos atrás.


P (Pergunta) A circunstância de um cientista ter uma fé religiosa de qualquer tipo, isto é, ser crente, condiciona-o no seu trabalho? Limita-o? Tira-lhe objectividade, discernimento ou capacidade de análise?


R (Resposta) “Há, como sempre houve, muitos cientistas crentes e há também muitos cientistas não crentes.”

Na verdade, pode dizer-se que as bases da ciência moderna foram lançadas por crentes.

A ciência parte do princípio de que o mundo é racionalmente compreensível por seres racionalmente capazes. A Bíblia ensina ambas as coisas.

“De entre os primeiros é justo destacar o italiano Galileu Galilei e o inglês Charles Darwin, cujas obras são motivo para comemorações à escala mundial em 2009, que protagonizaram episódios de conflito entre ciência e religião (Darwin chegou a estudar para pastor anglicano, foi uma pessoa religiosa durante largos anos e só no fim da sua vida se declarou agnóstico).”

Darwin, é verdade, tinha formação teológica.

Com o tempo ele adoptou uma visão naturalista do mundo, anulando progressivamente o papel de Deus.

No entanto, apesar de ter escrito a obra A Origem das Espécies, ele nunca conseguiu efectivamente explicar a origem das espécies, como é reconhecido pelos próprios evolucionistas.

“Mas pode também referir-se o inglês Isaac Newton e o checo Gregor Mendel (este último era mesmo monge agostiniano). Nos cientistas ateus ou agnósticos, o caso do norte-americano e suíço Albert Einstein é algo especial pois ele, à maneira do holandês Bento Espinosa, substituía Deus pela “harmonia cósmica”.

Resta saber de onde é que viria essa harmonia cósmica. A Bíblia tem uma boa explicação: um Deus racional e uma criação racional.


“Podem também incluir-se nesse grupo os norte-americanos Richard Feynman e Carl Sagan, embora estes tenham sempre respeitado e até enaltecido o sentido do religioso (o segundo procurou até bastante a aproximação com líderes religiosos, nomeadamente em defesa do nosso planeta).”

Carl Sagan era claramente um naturalista. Para ele, o cosmos é tudo o que existe.

No entanto, essa afirmação é claramente filosófica e não científica, na medida em que cientificamente não é possível demonstrar que o cosmos é tudo o que existe.

Dizer que o cosmos é tudo o que existe, como faz Sagan, é reclamar omnisciência. Isso não é ciência. É aspirar a uma qualidade divina.

“Alguns cientistas deste segundo grupo têm vindo a ter intervenções bastante mediatizadas nos últimos tempos em favor do ateísmo: por exemplo, o biólogo inglês Richard Dawkins, que tem empreendido uma espécie de “cruzada” contra a religião, e o físico norte-americano, galardoado com o Nobel da Física tal como Einstein e Feynman, Steven Weinberg, talvez menos prosélito do que Dawkins mas também com posições ateístas bastante claras.”

Só que o ateísmo não pode ser demonstrado em laboratório.

Ele consiste num pronunciamento sobre toda a realidade, que só um ser omnisciente pode pretender fazer.

Ora, omnisciência por omnisciência, sempre faz mais sentido acreditar na omnisciência de Deus.

“Não conheço estatísticas sobre a crença dos cientistas, mas, sendo estes pessoas comuns antes de serem cientistas, é natural que neles se encontrem os mesmos fenómenos de crença ou de descrença que se encontram na sociedade em geral.”

Na verdade, todas as pessoas aderem, consciente ou inconscientemente, a uma visão do mundo, a partir da qual interpretam as observações cientificas.

NInguém é absolutamente neutro e objectivo nas suas interpretações. E mesmo aquilo que é observado depende muito das pré-compreensões de que se parte.


“Em particular, é natural que se encontrem nos cientistas as mesmas afiliações religiosas que se encontram na sociedade em que vivem (um outro Prémio Nobel da Física, o físico paquistanês Abdul Salam, era muçulmano).”

A ciência é limitada. Os cientistas sabem-no.

O problema só surge quando os cientistas tentam fazer passar como científica a sua própria visão do mundo de base naturalista.

Nisso, os criacionistas são mais honestos, porque tornam clara a sua própria visão do mundo.

“Como a sociedade moderna é mais laica e como a “confissão” pública de descrença é mais socialmente aceitável, é também natural que cada vez mais se ouçam vozes de cientistas que expressam dúvidas sobre Deus ou mesmo que afirmam as suas certezas individuais em desfavor de Deus.”

Só que essas certezas individuais, uma vez examinadas, logo se mostram incertezas. Isso depressa se percebe.

Por exemplo, na sua defesa da evolução a Palmira Silva chegou a colocar no mesmo saco os cristais de gelo (estruturas repetitivas) e o DNA (sistema de armazenamento de informação codificada).

Por seu lado, o Paulo Gama Mota apontou a especiação dos Roquinhos como exemplo de evolução, quando a mesma supõe uma diminuição da quantidade e da qualidade da informação genética disponívei.


“Dito isto, fica claro que se pode ser cientista e ter ao mesmo tempo uma fé religiosa. Muitos exemplos da história da ciência e da actualidade mostram que é pacífica a coexistência de ciência e religião.”

O problema não é a ciência.

Esta é a mesma para criacionistas e evolucionistas. As suas bases foram lançadas por crentes.

O DNA, os fósseis, as rochas, os isótopos, etc., são os mesmos para criacionistas e evolucionistas.

O problema não é o conflito entre ciência e religião, mas sim entre as interpretações naturalistas e não naturalistas que as várias visões do mundo fazem dos dados científicos.

“De uma forma apenas metafórica, direi que ocupam partes do cérebro diferentes.”

Essa posição cai no risco de não levar em conta em que medida é que certas teorias científicas (v.g. evolucionismo) são o produto de visões filosóficas (v.g. naturalismo).

“Não penso, por isso, que a crença religiosa de um cientista o limite, que lhe retire objectividade na ciência que faz.”

Nenhum cientista pode reclamar inteira objectividade. Ele interpreta sempre os dados a partir de visões do mundo.

O melhor é esclarecer bem essas visões do mundo, nomeadamente distinguindo as observações científicas (v.g. observação de um fóssil) das interpretações dessas mesmas observações (v.g. o fóssil é antepassado do animal x).

“Um cientista sabe que quando está num laboratório, não está numa igreja e que quando está numa igreja não está num laboratório. Claro que haverá sempre excepções que confirmarão esta regra...”

Mas a mensagem da Igreja também se baseia em observações.

Existe mais evidência de que Jesus ressuscitou dos mortos do que de que a vida surgiu por acaso há 3,8 mil milhões de anos.

P- Qual é a diferença fundamental entre uma teoria científica e uma crença religiosa?

R- “Ciência e religião devem ser vistas como maneiras diferentes, muito diferentes até em vários aspectos, de encarar o mundo, que correspondem a necessidades humanas diferentes.”

A ciência apoia-se, essencialmente, naquilo que pode ser observável e repetível.

No entanto, as ciências históricas pretendem reconstruir o passado.

A teoria da evolução pretende ser, essencialmente, uma reconstrução do passado não observado.

Essa reconstrução está sempre, inevitavelmente, muito dependente de inferências, interpretações e especulações.

Por exemplo, uma coisa é observar semelhanças e diferenças entre seres vivos.

Outra coisa é interpretar essa observação para fundamentar a existência de um ancestral comum.

É que as mesmas semelhanças e diferenças também podem ser interpretadas à luz de um Criador comum.

“Apesar das diferenças, julgo que elas fazem bem em respeitar-se mutuamente. A ciência é a descoberta do mundo, recorrendo à racionalidade e à experimentação.”

A religião cristã também se baseia no testemunho continuado e multimilenar dos actos de Deus, da encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

“Está pronta a corrigir os erros se houver suficiente evidência para eles, conseguindo assim progredir ao longo do tempo.”

O debate religioso também possibilita a correcção de erros teológicos. A Reforma Protestante é um exemplo disso.

“A religião é um outro tipo de visão do mundo, que não assenta na racionalidade nem na experimentação.”

O cristianismo assenta na observação dos milagres e da ressurreição de Jesus com muitas provas infalíveis.

Além disso, ele postula um Deus racional, um universo racionalmente criado e inteligível, apto a ser compreendido por seres racionais.

Não existe nada mais racional do que o Cristianismo.

Em sentido contrário, a teoria da evolução não assenta na racionalidade nem na experimentação. Não assenta na racionalidade porque supõe um universo irracional em que acidentes cósmicos sem quaisquer pretensões de racionalidade pretendem conhecer esse universo irracional.

Com a teoria da evolução, é a própria ideia de racionalidade humana que está em risco, como mostra a filosofia pós-moderna.

Deus é a base mais sólida para a racionalidade.

O Universo pode ser conhecido de forma racional porque o seu Criador é racional.

Nós podemos estudar racionalmente o Universo, porque fomos criados à imagem e semelhança de um Deus racional.


“Assenta em geral em dogmas que têm uma tradição histórica profunda e que não podem ou que muito dificilmente podem ser revistos.”

De onde vêem esses dogmas?

No caso do Cristianismo eles não deveriam ser mais do que a formulação das observações efectivamente feitas.

Infelizmente, alguns dogmas católicos não têm fundamento empírico e bíblico.

Daí que mereçam ser criticados.

Em todo o caso, o Cristianismo tem bases sólidas.

Contrariamente ao que sucede com a hipotética origem acidental da vida ou com o hipotético ancestral comum, a ressurreição de Cristo foi efectivamente observada e pormenorizadamente relatada por testemunhas independentes e fidedignas.

“Quando um cientista é dogmático, não está a ser científico.”

Muitos evolucionistas deviam ser recordados disso.

Mais adiante veremos que o próprio Carlos Fiolhais necessitará que lhe recordem isso mesmos.

“E quando um religioso quer rever continuamente as verdades da sua religião, não está a ser religioso.”

As verdades centrais do Cristianismo são, de facto, imutáveis.

A criação, a queda, o dilúvio global, a dispersão pós-diluviana, a escolha de Israel, a promessa do Messias, a vinda de Jesus Cristo, a sua morte e ressurreição, e a promessa de uma segunda vinda são verdades intangíveis.

Trata-se de factos, com grandes implicações doutrinais.


“Nos casos de Galileu e Darwin houve "choque" entre descobertas científicas e dogmas estabelecidos relativos ao lugar da Terra e no Universo e à origem do homem.”

No caso de Galileu estava em causa o conflito com a cosmologia aristotélico-ptolemaica, não bíblica.

No caso de Darwin, estava em causa o conflito entre a visão bíblica e a visão naturalista do mundo.

Darwin tornou-se um naturalista, procurando confirmar cientificamente o seu naturalismo.

“O caso de Galileu, o autor do método científico, está hoje reconhecidamente ultrapassado, tendo até a Igreja Católica, passados vários séculos, reconhecido o seu erro.”

O erro da Igreja Católica foi ter cristianizado a cosmologia aristotélico-ptolemaica. Como hoje é errado procurar cristianizar a teoria do Big Bang (que tantos astrofísicos questionam) e o darwinismo (que tantos cientistas contestam).

“Parece até que Galileu vai ter uma estátua nos jardins do Vaticano. No caso de Darwin, que curiosamente está sepultado na catedral de Westminster, em Londres, o ”choque” chegou até aos dias de hoje, com os criacionistas a combaterem a teoria da evolução por vários meios, principalmente nos Estados Unidos, mas já com preocupantes afloramentos na Europa.”

Não sabemos porque é que o criacionismo é preocupante.

Preocupante é o facto de o evolucionismo ser aceite de forma acrítica.

“No blogue “De Rerum Natura” temos acompanhado esses desenvolvimento não de uma forma neutra, mas tomando partido pela ciência e contra a anti-ciência que o criacionismo representa.”

O evolucionismo não é automaticamente ciência, tendo em conta o facto de que não existe evidência científica capaz de corroborar as suas afirmações.

O evolucionismo é, essencialmente, uma interpretação dos dados científicos com base numa filosofia naturalista.

“De facto, querer como alguns querem que nas aulas de ciência se ensine o criacionismo ao mesmo tempo que o evolucionismo é um absurdo completo pois não se pode ensinar como ciência o que é precisamente o oposto dela.”

O que Carlos Fiolhais está a dizer é que o evolucionismo deve ser ensinado sem qualquer contestação, como um dogma, mesmo sem evidência ou contra a evidência.

O que é contraditório com a sua definição de ciência. Isso é dogma.

Para ele, o evolucionismo é verdade cientifica a priori, não podendo ser contestado.

Isso é dar como demonstrado aquilo que é preciso demonstrar.


“O irracional poderá ocupar o seu lugar, mas não pode ocupar o lugar do racional.”

Como se disse, não existe nada mais racional do que a crença num Deus racional que criou um Universo de forma racional, com uma estrutura racionalmente inteligível, para ser conhecido de por seres racionais.


“Uma tal atitude poderia até ser um atentado contra a democracia, pois alguns autores dessas ideias perseguem ideais teocráticos, que no fundo pretendem a subordinação do Estado a ideologias religiosas.”

Ou seja, Carlos Fiolhais acha que se deve constitucionalizar o evolucionismo, independentemente das suas falhas, apenas para salvar a democracia.

Esquece que a democracia foi o culminar da concretização de princípios judaico-cristãos.

Se o ateísmo fosse inerentemente democrático não teria havido problemas na URSS, na China, na Albânia, na Coreia do Norte, em Cuba, etc.


O problema é que a sua estratégia consiste em constitucionalizar a filosofia naturalista e em silenciar a discussão científica, violando a neutralidade ideológica do Estado e a liberdade de expressão, de investigação, de pensamento, etc.

A estratégia do Carlos Filhais permite que Dawkins fale à vontade da teoria da evolução, mas proíbe qualquer resposta em sentido contrário.

Isso é doutrinação, ou lavagem ao cérebro.

Os criacionistas limitam-se a defender a livre discussão da questão das origens com argumentos e contra-argumentos, deixando a cada um o direito de decidir.


Hoje sabemos claramente que o DNA nunca poderia ter tido outra origem que não uma criação inteligente.

Na verdade, hoje sabemos que sempre que existe informação codificada a mesma tem origem inteligente.

Não se conhece qualquer excepção a esta observação.

Também sabemos que o DNA tem informação codificada. Isso é um dado geralmente aceite pela comunidade científica.

Logo podemos com certeza concluir que o DNA teve origem inteligente.

A sintonia do Universo para a vida caminha exactamente no mesmo sentido.

A informação codificada no DNA, as leis naturais e a sintonia do Universo corroboram inteiramente o ensino Bíblico da Criação.

Carlos Faria disse...

Embora seja geólogo de formação e não exerça a profissão de investigador, situo-me no grupo das pessoas que lidam com a ciência e coopero com universitários frequentemente, todavia sou também assumidamente cristão (prefiro este termo ao de uma religião específica dentro deste ramo), pelo que este post é de grande interesse para mim, pois o tema instala-se na minha consciência com frequência.
Reconheço que as suas respostas são de tal forma próximas da minhas ideias que as subscrevo quase na íntegra (sou mais da opinião que os dogmas são uma forma rígida de expressar algo que se crê sem se saber bem os termos a utilizar,por isso não sei se sou dogmático dentro da religião ou se quero rever verdades religiosas, uma ambiguidade que não é tão evidente no seu texto). Parabéns pelas respostas, já conhecia a sua capacidade de comunicar em divulgação científica, aspecto que julgo ser pouco desenvolvido em Portugal, mas agora demonstrou uma isenção que é de louvar e é isso o verdadeiro cientista, aquele que analisa as questões sem preconceitos e aceita as respostas, sejam elas quais forem.
Carlos Faria

AddCritics disse...

As respostas do Prof. Carolos Fiolhais foram excelentes e são muito próximas do modo que penso ser o correcto para pensar nestas questões.

Em relação ao comentário do Dr. Perspectiva penso apenas que alguns dos "factos" que refere podem não ser realmente factuais. Temos de nos colocar esta questão. São mesmo factos? e como os prova?

António Parente disse...

Caro Carlos Fiolhais

Parabéns pela excelente entrevista que deu ao Expresso. As suas respostas foram brilhantes. Não sendo crente (?) o Carlos Fiolhais teve a capacidade de defender as suas ideias e apresentá-las de uma forma que qualquer crente as subscreve sem hesitações.

Mais uma vez, parabéns.

Luís Bonifácio disse...

Parabéns Caro Doutor Fiolhais pelo seu texto. No entanto coloco aqui umas questões:

A ciência [...] Está pronta a corrigir os erros se houver suficiente evidência para eles
Não acha que ultimamente têm aumentado o nº de cientistas dogmáticos, e que certas teorias ciêntificas estão, neste momento ao nível do dogma". Não me estou a referir à Teoria da Evolução, mas sim ao "aquecimento global", ao excelente método cientifico usado para "despromover" o planeta Plutão (Votação por maioria), à recepção que a comunidade ciêntifica fez à teoria de João Magueijo, etc?.

o biólogo inglês Richard Dawkins, que tem empreendido uma espécie de “cruzada” contra a religião
Não acha que um cientista como Dawkins ou a prof. Palmira se intitulam, que se dedica unicamente a tentar destruir (com livros e até com campanhas publicitárias) a religião e a ideia de Deus, merece o nome de "cientista"? Não será mais apropiado chamar-lhes teólogos?

Sobre a Teoria da Evolução, acho que sinceramente temos de lhe deixar de chamar "Teoria", pois para mim é um FACTO. O não conhecimento de como se processam a maior parte das "mutações" não invalida que ela ocorra. Basta fazer a experiência das "moscas vs DDT", ou das "bactérias vs antobióticos", para ver que os protestantes evangélicos que defendem o "Creacionismo", apenas são "ignorantes".
Agora seria interessante que nas aulas de Biologia se mostrasse uma perspectiva histórica da evolução da visão humana sobre as origens do universo e do Homem. É uma questão de cultura.

Mil disse...

Caro Luis,

A "cruzada" de Dawkins (ou da Prof. Palmira) é contra a irracionalidade, que por acaso está na base da religião.
No entanto a religião não é o único alvo da dita "cruzada". A irracionalidade presente nas astrologias, homeopatias, etc, também é combatida.
Não vejo qualquer incompatibilidade entre a luta contra a irracionalidade e a ciência... bem pelo contrário.

perspectiva disse...

Continuação dos comentários criacionistas às palavras de Carlos Fiolhais, referidas entre aspas.

“A ideia de que houve um “Big Bang”, isto é, o início do espaço-tempo, tem uma base lógico-empírica bastante sólida.”

Se isso fosse realmente verdade, não teria havido, em Setembro de 2008, no estado de Washington, uma reunião de 60 astrofísicos norte-americanos que criticam o modelo e dizem que ele pura e simplesmente não funciona.

A teoria do Big Bang não explica a origem da partícula infinitesimal, a sua explosão, a sua hipotética inflação, a origem das estrelas, das galáxias, do sistema solar, etc.

Até Stephen Hawking reconhece que o Big Bang não explica a origem das estrelas e galáxias.

O que não é propriamente um detalhe, considerando que estamos a falar de triliões de estrelas e biliões de galáxias.

Não é por acaso que o astrofísico Joseph Silk, no seu livro “The Big Bang”, reconhece que a teoria do Big Bang não tem o necessário princípio.

Existem observações que são compatíveis com o Big Bang (v.g. expansão do Universo).

Existem outras que foram preditas por ele (v.g. radiação cósmica de fundo). No entanto, existem observações inerentemente incompatíveis com ele (v.g. maturidade de galáxias supostamente antigas, quantização das galáxias, ausência de estrelas população III).

E existem coisas que o Big Bang não explica (v.g. energia negra, matéria negra, problema do horizonte, maturidade das galáxias).

No entanto, existem outros modelos cosmológicos, de matriz criacionista.

Os mesmos procuram acomodar todas as observações científicas numa explicação consistente com o relato brando.

A teoria dos buracos brancos e da dilação gravitacional do tempo do matemático e físico Russell Humpreys é apenas um entre outros exemplos.

“Neste momento não há sequer uma teoria alternativa que seja minimamente consistente.”

Isso só demonstra que nenhum modelo teórico humano explica a origem do Universo. O que só dá plausibilidade à ideia de que Deus criou o mundo em 6 dias, tal como a Bíblia diz.

A sintonia do Universo para a vida, que se manifesta nas centenas de coincidências antrópicas do Universo, corroboram isso mesmo.

A origem instantânea do Universo nem sequer é algo estranho para a ciência, na medida em que ela está presente nos numerosos modelos inflacionários da teoria do Big Bang.

Acresce que as observações mais recentes de outros sistemas solares e planetas só atestam a singularidade do nosso sistema solar e da Terra, falando alguns autores na necessidade de uma nova revolução coperniciana de sentido contrário.

“Portanto, não é uma ideia de base religiosa.”

O Big Bang não é um modelo religioso ou científico. É um mito cosmogónico moderno, sem qualquer base empírica sólida.

“O facto de essa ideia moderna coincidir, apenas de uma maneira geral e vaga, com uma ideia bastante antiga da Igreja Católica, é sem dúvida curioso.”

Quem ler bem a Bíblia conclui que não existe qualquer coincidência.

“A este respeito lembro que um dos autores da teoria do “Big Bang” foi o astrofísico belga Georges Lemaître, que era sacerdote católico. E acrescento que vários altos dirigentes religiosos se congratularam com o que chamaram a “base científica” da criação descrita na Bíblia.”

É um erro reinterpretar a Bíblia com base numa teoria humana falível que não tem base empírica sólida.


“Mas é óbvio desde o tempo de Galileu que a Bíblia não é um livro de ciência... “

Ainda bem. Caso contrário já há muito que estaria desactualizada.

A longevidade média de um livro científico é de cerca de 10 anos. Muitos não duram tanto.

A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela fornece as necessárias premissas para o conhecimento científico.

Ela ensina que um Deus racional criou um Universo racional para ser compreendido de forma racional.

“Os astrofísicos não trabalharam com base na Bíblia para agradar ao Papa. Olham com atenção para o céu com poderosos telescópios, instrumentos muito superiores aos que Galileu usou há quase 400 anos, e são hoje capazes de fazer experiências na Terra que recriam, por pequenos tempos e em pequenos espaços, as condições que terão existido por todo o lado no cosmos primitivo.”

Para isso os astrofísicos têm que pressupor que sabem como foi esse cosmos primitivo.

A astronomia naturalista começa por pressupor uma origem casual do universo e constrói a partir daí.

O problema é que tudo assenta em pressuposições não demonstráveis.

“As suas conclusões, por absoluta falta de informação, nada dizem sobre o que se terá passado antes do “Big Bang” (a pergunta sobre a causa do “Big Bang” é legítima, mas não pode ser respondida pela ciência). Os astrofísicos não podem nem aliás querem provar a existência ou a inexistência de Deus.”

Infelizmente, apesar de não terem um princípio nos seus modelos naturalistas, alguns astrofísicos falam da origem acidental do Universo como se tivessem sido testemunhas oculares desse processo.

A Bíblia fornece um princípio. Ela diz: no princípio Deus criou os céus e a Terra.

“O astrofísico inglês Stephen Hawking e outros falam, de facto, de Deus, mas trata-se de uma imagem, uma imagem que tem força e impacte... Einstein também falava de Deus sem acreditar em qualquer Deus pessoal.”

O problema de Hawking e Einstein é que nenhum deles estava lá para ver a criação do mundo.

“O físico norte-americano Leon Lederman fala de “partícula de Deus” a propósito do procurado bosão de Higgs.”

O mesmo se passa com Lederman. Ele também não estava lá no princípio. Mas Deus estava.

“Essas imagens podem ser e são muitas vezes perigosas porque dão a entender que há uma mistura entre ciência e religião quando, de facto, não há. Elas mostram apenas que alguns cientistas são uns bons comunicadores...”

No entanto, por melhores comunidadores que sejam, falam de algo que não observaram nem podem observar.

O Big Bang não tem um princípio. Jesus disse: Eu sou o princípio.


As leis da física demonstram que a matéria e a energia não se criam a elas próprias.

Elas tiveram que ser criadas.

O Unverso existe porque Deue existe.

perspectiva disse...

Continuação do comentário criacionista às resposta de Carlos Fiolhais.


P- A Igreja Católica tem uma longa história de repressão e condicionamento do pensamento científico que remonta, pelo menos, a Galileu? A posição actual é diferente?

R- Sim, a Igreja Católica já se penitenciou a propósito do caso Galileu. Há hoje um Observatório Astronómico no Vaticano, a cargo de jesuítas, onde se realiza investigação científica.

A Igreja Católica não esgota toda a cristandade. Mas uma parte dela. Muitos cristãos têm lutado contra o totalitarlismo católico ao longo da história, defendendo que ele é incompatível com os ensinos de Cristo.

Muitos pagaram essa luta com a sua vida.


Jesus disse: dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Os problemas começaram, de forma explosiva, quando a Igreja Católica pretendeu fundir as duas grandezas.


“O próprio Papa tem convocado cientistas e teólogos para alguns encontros sobre ciência e fé.”

No entanto, o Papa não pode cair no erro de colocar as teorias falíveis e provisórias de cientistas imperfeitos, com observações limitadas, acima da Palavra infalível e definitiva de um Deus perfeito, com toda a informação, toda a sabedoria e todo o poder.

“Também não penso que haja tensão actualmente a propósito da evolução, embora possa haver a esse respeito palavras menos felizes de um ou outro membro do clero. “

Infelizes são, a esse propósito, os pronunciamentos dos evolucionistas.

Eles supõem que a vida surgiu por acaso (em violação da lei da biogénese) sem qualquer evidência.

Ora, toda a informação codificada tem sempre origem inteligente.

Pelo que o DNA, que tem informação codificada em quantidade e qualidade que transcende toda a capacidade humana, só pode ter tido origem inteligente.

“Nisto a Igreja Católica distingue-se de algumas igrejas evangélicas, que têm ideias radicais baseadas na Bíblia.”

As ideias radicais são estas: aquilo que é humana, natural e cientificamente impossível é possível para Deus, que criou as leis naturais e está acima delas.

Os evangélicos sabem perfeitamente que é naturalmente impossível alguém ressuscitar dos mortos.

Eles apenas acreditam que a mensagem fundamental da Bíblia é que existe um Deus que criou a natureza e que a controla.

Ele criou a vida, e pode ressuscitar os mortos. A comunidade cientifica não pode fazer nem uma coisa nem outra.

A verdade é que existe mais evidência de que Jesus ressuscitou dos mortos, do que de que a vida surgiu por acaso.



“Contudo, não se pode dizer que não haja tensão entre a ciência e a Igreja a respeito de outros assuntos, nomeadamente sobre os limites éticos da moderna investigação biomédica.

Na verdade, se a Bíblia não é credível quando fala de ciência ou história, porque será quando fala de ética?


” Se alguém acredita que o ser humano é um acidente cósmico sem valor intrínseco, não terá nenhuma razão objectiva para respeitar quaisquer limites éticos.

Estes serão sempre passíveis de ser considerados como mera superstição religiosa.

“Muitos biólogos e médicos acham que são conservadoras as posições oficiais da Igreja sobre algumas questões de biologia e medicina, nomeadamente a utilização de células estaminais. Provavelmente assistiremos a uma evolução das posições da Igreja neste domínio à medida que a ciência evoluir e a tecnologia associada se revelar benfeitora do homem.”

O problema é que se o homem rejeitar as padrões divinos, então ele poderá escolhar entre cerca de 8 biliões de padrões humanos alternativos. Tantos quantos as pessoas que existem.

perspectiva disse...

Continuação do comentário criacionista às respostas de Carlos Fiolhais.


P- O cientista no seu trabalho segue um protocolo rigoroso, com verificação de leituras, comprovação de factos e cálculos, etc. Fica alguma lugar para a inspiração, para a criatividade, para o «tiro do escuro»?

R- “Em primeiro lugar, embora sem ser de tipo religioso, o cientista também tem crenças no seu trabalho.”

Os criacionistas têm insistido neste ponto.

Todo o pensamento assenta em visões do mundo e premissas não demonstráveis.

Todos começam por procurar corroborar aquilo em que acreditam.

Os criacionistas bíblicos partem das premissas postas pela Bíblia.

Os evolucionistas partem de premissas naturalistas.

Uns e outros constroem modelos e procuram corroborar as suas premissas.

Tudo está em saber qual dos modelos explica melhor as observações.

“Um cientista tem de acreditar na sua hipótese. A grande diferença relativamente à fé religiosa é que o cientista tem de estar preparado para deixar de acreditar na sua hipótese se a experiência não a confirmar.”

Isso não é bem assim.

Darwin reconheceu expressamente que o registo fóssil não corroborava a sua teoria de evolução gradual, mas nem por isso abandonou o seu modelo.

Ele acreditava na evolução, mesmo antes de e sem encontrar evidência fóssil nesse sentido.

Os cientistas procuram reinterpretar os seus modelos para acomodar novas observações.

Muitas vezes as observações contrárias ao modelo são ignoradas, reinterpretadas, consideradas anómalas, etc.

Muitos dos argumentos que tradicionalmente eram utilizados para justificar a evolução (v.g. órgãos vestigiais, junk-DNA, embriões de Haeckel, evolução do cavalo, evolução das baleias, tentilhões dos Galápagos) já foram amplamente refutados.

E ainda assim continua-se a ensinar a teoria da evolução, em muitos casos com base nesses mesmos argumentos!

Por outro lado, proliferam os fósseis vivos e os fósseis polistráticos, sendo que o registo fóssil continua a não dar evidência de evolução gradual.

Mas ainda assim se continua a ensinar a teoria da evolução como se fosse verdade científica inatacável.

O problema da evolução, mais do que entrar em colisão com a Bíblia, é não ter fundamento científico sólido.

“Sim, há um grande lugar para a inspiração e para a livre criatividade no trabalho científico. Por exemplo, só certos génios são capazes de certas hipóteses geniais. E nem eles sabem de onde lhe vêm essas intuições.”

Um Deus racional e criativo criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Talvez isso possa ajudar a compreender de onde vêm as intuições.

De resto, muitas intuições vêm da observação da natureza, cheia de exemplos fantásticos de design.

A biomimética é precisamente uma disciplina que procura levar a engenharia a aprender imitando as soluções técnicas encontradas nos seres vivos.

“Pode dizer-se até que há algo de irracional na racionalidade científica, embora as modernas neurociências tenham vindo a procurar esclarecer o modo como funciona o cérebro humano.”

O cérebro humano é uma maravilha de design.

Carl Sagan dizia que o mesmo é a máquina mais complexa de todo o Universo. Um criacionista percebe bem porque é que isso é assim.

Uma máquina com 1.3 Kgm, com cerca de 100 biliões de neurónios e cerca de 100 triliões de sinapses, com cerca de 50 000 por neurónio. Os impulsos electroquímicos movem-se a uma velocidade de cerca de 250 kms/h no cérebro. Este tem cerca de 1000 regiões diferentes para a realização de diferentes tarefas. E o que ele consegue fazer!!

Os evolucionistas reconhecem que não fazem a mais pequena ideia de como ele evoluiu, como uma recente reunião científica em Boston demonstrou.

“Vai, com certeza, saber-se mais sobre ele e talvez se verifique que a criatividade em ciência não é lá muito diferente da criatividade artística - o cérebro encontra subitamente unidade em algo que parecia desunido.”

Tudo isso corrobora a ideia criacionista de que o cérebro humano é uma maravilha de design.

O cérebro corrobora a ideia de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de um Deus racional.

“De repente, estabelece um sentido onde não parecia haver sentido nenhum. Faz-se luz onde estava escuro. O cérebro humano parece “feito” para procurar um sentido razoável das coisas. É racional.”

Um criacionista diria apenas: ele não só parece feito, como foi realmente feito.

“Mas convém acrescentar que o cérebro humano também parece “feito” para dar sentidos não razoáveis, também é irracional. Alberga tanto a racionalidade como a irracionalidade.”

A irracionalidade ocorre quando nos afastamos de Deus.

Só por irracionalidade é que alguém pode pensar por um segundo que o DNA surgiu por acaso quando a hipótese de isso acontecer é zero (segundo a estimativa de Francis Crick) e o DNA tem informação codificada, sendo que esta, em todos os casos conhecidos, tem sempre origem inteligente.

“Na linha de Darwin, há desenvolvimentos científicos recentes que atribuem à evolução humana a origem e desenvolvimento das religiões.”

Pura especulação naturalista, destituída de sentido e base empírica.

“ Acreditar terá sido uma vantagem competitiva, tanto para um indivíduo como para o seu grupo. Isto é, a pertença a um grupo religioso terá sido um factor que ajudou à sobrevivência do indivíduo e do grupo.”

Isto não faz sentido.

O cristianismo tem uma base empírica mais sólida do que o evolucionismo.

Nunca ninguém viu a vida a surgir por acaso, o hipotético ancestral comum ou um ser vivo menos complexo a dar origem a outro mais complexo. Isso é pura especulação.

No entanto, os milagres de Jesus e a sua morte e ressurreição foram presenciados e reportados por muitos.

É mais seguro acreditar na explicação que o Cristianismo dá do naturalismo, do que no que na explicação que o naturalismo dá acerca do cristianismo.


“Esta ideia, expressa por exemplo pelo filósofo norte-americano Daniel Dennett ou pelo biólogo inglês Lewis Wolpert, ainda não é consensual e está a fazer o seu caminho. Não sabemos ainda o suficiente, mas é curioso que o aparecimento e a afirmação do fenómeno religioso sejam hoje objecto de pesquisa científica...”

Uma vez detectadas e criticadas as premissas naturalistas que subjazem a esse esforço, logo vemos que nunca irá longe.

P- Há descobertas por acaso, como a da penicilina. A «serendipidade» é aliás frequente na história das grandes descobertas. Que papel pode ter o acaso na descoberta científica?

R- "O acaso tem certamente um papel na descoberta científica. Acontecem coisas aos cientistas – por exemplo estar num certo sítio a uma certa hora – que podiam não acontecer."

Os criacionistas não diriam o acaso. Diriam antes a providência de Deus.

“Claro que é preciso estar atento ao acaso, que só assim pode ser um acaso criativo. Por exemplo, as descobertas da radioactividade e dos raios X, no final do século XIX, poderão ter sido casuais. Contudo, distinguiria esse tipo de acaso da “fezada”, a intuição do que vai acontecer que se expressa sob a forma de uma hipótese científica. Uma hipótese não costuma ser por acaso, antes se baseia em teses anteriores devidamente testadas e comprovadas.”

Convém lembrar que a ciência é a mesma para criacionistas e evolucionistas.

O que varia são as visões do mundo e as premissas de que uns e outros partem para a análise das observações.

Os criacionistas também têm diferentes modelos teóricos que vão testando e descartando.

Para mais informações:

www.icr.org

www.answersingenesis.org

www.creationwiki.org

www.creationontheweb.org

www.biblicalgeology.net

perspectiva disse...

Luis Bonifácio diz:

"O não conhecimento de como se processam a maior parte das "mutações" não invalida que ela ocorra."

Pensou no que disse? O que se sabe sobre a maior parte das mutações é que são deletérias e diminuem a qualidade do genoma, criando doenças e por vezes a morte.


"Basta fazer a experiência das "moscas vs DDT", ou das "bactérias vs antobióticos", para ver que os protestantes evangélicos que defendem o "Creacionismo", apenas são "ignorantes"."

Pensou no que disse? As moscas são sempre moscas (depois de décadas de experiências) e as bactérias são sempre bactérias, apesar da sua imensa rapidez de reprodução e e elevada taxa de mutações.

Se esses são os melhores exemplos de evolução, os criacionistas podem bem com eles.

perspectiva disse...

Mil diz:

"A "cruzada" de Dawkins (ou da Prof. Palmira) é contra a irracionalidade, que por acaso está na base da religião."

Não existe mais racional do que a crença de que um Deus racional criou o Universo de forma racional, com uma estrutura racional, para ser compreendido racionalmente por seres racionais. E no entanto, Dawkins e a Palmira não suportam tanta racionalidade...

"No entanto a religião não é o único alvo da dita "cruzada". A irracionalidade presente nas astrologias, homeopatias, etc, também é combatida."

A Bíblia sim, combate a irracionalidade. Tanto daqueles que acreditam que a vida veio das estrelas (evolução cósmica) como daqueles que acreditam que a vida é regulada por elas (astrologia).


"Não vejo qualquer incompatibilidade entre a luta contra a irracionalidade e a ciência... bem pelo contrário."

Os criacionistas também não vêem qualquer problema nisso. É por isso que eles dizem que é irracional confundir uma estrutura repetitiva (v.g. cristais de gelo ou de sal) com um sistema de armazenamento de informação codificada (v.g. DNA).

É contra este tipo de irracionalidade, demonstrada pela Palmira Silva, que os criacionistas se insurgem.

Ska disse...

"O que se sabe sobre a maior parte das mutações é que são deletérias e diminuem a qualidade do genoma"

Tu tens uma mínima noção de biologia ou pura e simplesmente copy-pastas o que lês nos blogs aprovados pelo santo padre?

"O que se sabe", quem? Os fanáticos religiosos? então deveria ser "O que se sabe sobre a maior parte das mutações" é que existem porque deus queria que existissem, ou coisa parecida

Luís Bonifácio disse...

Mais estupidos que os argumentos do prof Jónatas, digo Perpectivas é o facto de dizer que ele copia os blogues aprovados pelo santo padre. Se o fizesse seria um apoiante da teoria da evolução e não o contrário.

Quanto ao facto de as mutações diminuirem a qualidade do genoma, isso dá-me vontade de rir. Caro perspectivas, contacte os Gatos fedorentos, pois eles necessitam criativos.

E as borboletas amarelas vs castanhas de Manchester?


Quanto ao que o MIL disse, os maiores irracionais que o mundo conheceu foram os ateístas e não os religiosos.
Marat, Danton, Hitler, Estaline foram os maiores assassinos que o mundo conheceu.

NOVA ATLÂNTIDA

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